quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Amor a bordo (I)

Ela estava ali, parada e desatenciosa. Observando algo que até então nunca tinha visto, a não ser pela tela, ou de uma televisão ou de um computador. Barcos. De todos os tamanhos e cores, todos lindos. Ela sonhava com eles, e tinha uma vontade enorme de um dia saber como eram por dentro, tinha vontade de entrar na cabine do capitão, sonhava em navegar pelo oceano em um deles e sentir a maresia em seu rosto. Seus olhos brilhavam a olha-los. Ela não sabia, mas alguém também a observava com profunda curiosidade, alguém que também tinha muita paixão por barcos e sentia seu coração pulsar descompassado, não mais pelos barcos, agora era por ela que seu coração dançava em ritmo de frevo. Ele cuidava de seu barco, mas perdeu a atenção em tudo que fazia ao notá-la, seus olhos também brilhavam ao olhar para ela.
- amor a primeira vista isto?- ele se questionou - não pode ser, ela só é... a mulher mais linda que já vi.
Ela ainda continuava maravilhada com tantos daqueles barcos, e com aquela paisagem de beleza única, mas ela sabia que não poderia ficar muito tempo ali. Sua vida na nova cidade seria difícil, arrumar um emprego seria a primeira coisa a fazer. Ela era determinada e muito inteligente. Mechia muito bem em computadores e sabia se comunicar.
- já vi o que eu um dia terei, se Deus quiser! agora vou agir minha vida. - Ela afirmou com um sorriso e foi embora, sem perceber quem a fitava sem ao menos piscar.
Os dias passaram e tudo que ela conseguiu foi um emprego de garçonete em uma lanchonete. Ela não tinha opção e seu dinheiro já estava acabando, a diária do hotel em que se hospedara era cara demais para seu orçamento. Não poderia recusar tal emprego. Mas em meio a tanto suor e trabalho, ela se maravilhava com a vista que tinha. Os barcos. Sempre que saía de seu trabalho ela dava uma volta e sempre era atrás deles que ela ia, e ficava olhando e se imaginando dentro deles e até pilotando um deles. Aquele rapaz que naquele dia a fitou com tanto fervor não a via mais, seu barco não estava ancorado e ela sentiu falta, não dele, mas do barco. Era o mais lindo e reluzente.
Em uma terça feira, ela estava em seu trabalho, lendo o jornal e procurando outras ofertas de empregos, e uma faculdade que pudesse pagar.
Ele chegava novamente ao porto, não se lembrava mais daquela mulher tão doce e tão linda. Sua vida era a mesma. Ao ancorar seu barco, ele saiu e foi até a lanchonete. Porém a lanchonete que frequentava estava fechada e foi obrigado a ir a uma outra próxima dalí. Ao sentar em uma mesa, quem o atendeu foi ela com um sorriso encantador e olhar doce. Ele a fitou do mesmo jeito que tinha feito no barco há 1 mês. Não sabia o que dizer, os batimentos fortes e descompassados não o deixavam pensar. Era ela, ele tinha certeza, que era aquela mesma mulher de 1 mês atrás.
- senhor, o que vai querer? - ela perguntou gentilmente. Ele ainda não sabia o que dizer e em um impulso disse.
- água, quero água. - sorriu sem jeito, desviou o olhar, depois quis voltar no tempo e causar uma melhor impressão, mas já o tinha feito e parecia um esquizofrenico frenético. Ele respirou fundo e ensaiou o que diria quando ela voltasse. Ela voltou, colocou sobre a mesa o copo e a água.
- mais alguma coisa? - ela perguntou.
- obrigado. - ele respondeu. Dessa vez mais normal e menos nervoso. Mas ainda se condenou, ele poderia ter falado outra coisa, ter pedido algo, elogiado-a. Como ele poderia estar tão nervoso? Ela era só uma mulher, a mais linda do mundo, mas ainda assim era só uma mulher e não o queimaria vivo em praça pública por falar com ela. No fim achou melhor desistir, aquele não era o dia e nem o momento de chamá-la para sair ou algo do tipo. Pagou a água que não bebeu no caixa para não ter que falar com ela novamente e saiu.